Tira a calcinha do meio da bunda, termina de arrancar o esmalte, faz um sanduíche com o resto da geladeira e entra aqui. Que o último a chegar não é a mulher do padre. Aqui não tem padre. A proclamação da vulgaridade é uma fé bem cachorra, passando um esfregão no mundo, numa procissão de latidos. Eu leio assim — latindo.
No meio da proclamação, vemos duas mãos. “que sorte: minhas cicatrizes preferidas ficam uma ao lado da outra”. Mão esquerda com a queimadura de cigarro que a avó fez na neta, mão direita com a mordida do cachorro impedido de perseguir uma pizza da dona. Seja lá qual das duas for a mão com que a poeta Mila Teixeira escreve, há um lembrete: perto do destino tem sempre uma bobagem. Um personagem. Uma cena. Um caderninho amarelo caído de uma bolsa, objeto que você não devolve porque quer bisbilhotar.
A proclamação da vulgaridade não é, então, um discurso. Nada disso. A poesia de Mila é uma grande risada. Da nossa condição, de todos os diagnósticos. Um corpo fugindo do médico: as doenças que tenho são as que eu imagino que tenho, doutor. Posso inclusive ter alergia a você, doutor. O jogo é bruto: se apaixona pela foto de perfil de um cara sem se esquecer que ver a outra metade do rosto pode ser fatal pra reverter o apaixonamento. Aqui estamos colados à nossa decomposição, à nossa breguice, aos nossos lençóis com elástico frouxo. Batendo no mistério: “não é por acaso/que passo o dia mijando.”.
Como uma calcinha velha acumuladora de furos, vai se adequando perfeitamente à nossa anatomia — e também por isso, eu acho, deve ser queimada. Na vulgaridade, as segundas intenções são para o horário do fantástico, se goza como um bom animal, a casca de banana vai permanecendo no quarto, no poema, a guerra é declarada a um pombo e há a certeza: de que poetas são pobres. Deixando certamente a vontade: de que devemos ser fregueses de Ismália. Comedores do queijo coalho de Ismália. Pelo menos aqui, nesse livro, sob tal presidência.
Está declarada a falta gostosa de poder. A quantidade de mal-entendidos e satisfações desnecessárias são também produções poderosas de vida. E, de todo jeito, terminamos sem descobrir quanto tempo vive uma barata, antes de ser morta por uma escova rosa. Ou o tempo que leva para uma baleia, que desistiu da vida, se decompor.
Parcelas | Total | |
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1 x | de R$40,00 sem juros | R$40,00 |
2 x | de R$21,53 | R$43,06 |
3 x | de R$14,56 | R$43,69 |
4 x | de R$11,09 | R$44,34 |
5 x | de R$8,98 | R$44,92 |
6 x | de R$7,58 | R$45,46 |
7 x | de R$6,56 | R$45,89 |
8 x | de R$5,81 | R$46,49 |
9 x | de R$5,23 | R$47,08 |
10 x | de R$4,75 | R$47,46 |
11 x | de R$4,37 | R$48,05 |
12 x | de R$4,05 | R$48,64 |
1 x de R$40,00 sem juros | Total R$40,00 | |
2 x de R$20,00 sem juros | Total R$40,00 | |
3 x de R$13,33 sem juros | Total R$40,00 |