Originalmente publicado em 1989, A casa de barcos é até hoje uma das obras mais emblemáticas do estilo literário que rendeu a Jon Fosse o prêmio Nobel de literatura em 2023. Narrado no ritmo frenético de um homem tomado pela angústia, o romance combina temas recorrentes da literatura mundial ― amizade, ciúme e triângulos amorosos ― com um estilo inovador e hipnótico, no qual um narrador pouco confiável mantém a tensão até a última página, nos fazendo avançar e recuar ao sabor do seu fluxo de consciência. A história se passa em uma pequena cidade costeira da Noruega, próxima a um fiorde. O protagonista é um homem solitário. Sem nunca ter se estabelecido profissionalmente, ele vive com a mãe e ganha algum dinheiro tocando guitarra em bailes da região. O encontro fortuito com Knut, um amigo de infância que mudara de cidade e agora volta para passar o verão com a esposa e as duas filhas, é o evento que desencadeia no narrador o sofrimento que o obriga a escrever. O convívio inesperado com a esposa do amigo traz à tona memórias da juventude dos dois e reabre feridas mal cicatrizadas. Neste romance virtuoso, que mescla ousadia estilística e elementos de thriller escandinavo, é possível experimentar fisicamente o transe literário criado por Fosse. Como os personagens, apequenados e à deriva ao pé do imenso fiorde, ao nos deixarmos levar por estas páginas, experimentamos uma das mais perfeitas traduções literárias dos tormentos humanos.